Novel escrita por Makoto Fukami
Arte e história original de Kentaro Miura
Tradução e adaptação de Rogério Teodoro dos Santos
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BERSERK: O CAVALEIRO DRAGÃO FLAMEJANTE
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Capítulo 2. 1
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Quatorze anos se passaram desde que Grunbeld Ahlqvist matou o tigre. Dez anos atrás ele se tornara um cavaleiro e continuou a lutar contra Tudor desde então. Os protagonistas dessa luta foram os Cavaleiros do Dragão Flamejante, liderados por Grunbeld, e a Infantaria Pesada do Dragão Flamejante que os apoiava. Juntos, os cavaleiros e a infantaria foram apelidados de Grunbeld Corps. Muitos sobreviventes da educação de conversão estavam entre os líderes dessa corporação. Eles desejam fervorosamente uma vingança contra Tudor.
Durante sua luta contra Tudor, Grunbeld foi escolhido para ser o mestre do Ninho do Dragão de Fogo. Kirsten tomou temporariamente o controle do Forte Chester, que foi posteriormente recapturado por Tudor, e o Grão-Ducado continuou a sofrer de inferioridade numérica. No começo, a Grunbeld Corps atacou agressivamente, mas mesmo vencendo, suas linhas traseiras acabaram em perigo e eles tiveram que retornar. Sendo esse o caso, a decisão tomada foi a de que o sempre-vitorioso Grunbeld permanecesse temporariamente no Ninho do Dragão de Fogo para manter a salvo o Grão-Ducado. Esse detalhe indiferente era parte da razão pela qual Grunbeld fora escolhido como o mestre do Ninho. Grunbeld estava de armadura completa na plataforma de observação da torre sul. Ele realmente cresceu como um gigante. Poucos descendentes dos caçadores oceânicos do norte viviam no grão-ducado de Grant, e eles eram uma ou duas vezes maiores do que um homem adulto médio. Mesmo entre eles, o tamanho de Grunbeld era excepcional.
A armadura que cobria a grande estrutura de Grunbeld era uma armadura completa – placas de ferro unidas com rebites. Era clara e pouco refinada, com nada além de um único brasão de dragão adornando o elmo. Cota de malha foi usada nas articulações, de modo a não inibir seus movimentos durante a batalha. Além disso, um grande escudo foi montado no antebraço esquerdo de sua armadura. Este escudo também ostentava um relevo de dragão e era grosso o suficiente para se defender contra qualquer arma de projétil. Se não fosse a grande estrutura de Grunbeld e sua força sobre-humana, o peso combinado de tudo isso teria se mostrado excessivo.
Além disso, a principal arma de Grunbeld era o martelo de guerra que ele usara para matar o tigre. Tinha um metro e meio de comprimento e a cabeça era como a âncora de um grande navio. Com um martelo de guerra extra-grande, não havia necessidade de se preocupar com uma lâmina de corte. Ao mesmo tempo, havia uma sensação de “Quem poderia empunhar uma arma como essa?”. Mas agora houve uma inversão total na ordem de “Esta é a única arma que pode suportar a força sobre-humana de Grunbeld”. Um exército de Tudor se aproximava do Ninho do Dragão de Fogo e contava com cerca de vinte mil homens. Havia três mil na Grunbeld Corps para se opor a eles.
“Ali vem um grande exército.” O vice-comandante de Grunbeld aproximou-se dele. Era Edvard, que tinha apenas um olho bom devido à batalha com o tigre. Ele usava uma pedaço de couro marrom sobre o olho esquerdo arruinado. Quando estava em pé ao lado de Grunbeld, notava-se que Edvard era muito alto. Seus braços e dedos eram longos, como eles eram desde a infância. Seus longos cabelos loiros estavam bem arrumados. Edvard também usava uma armadura completa, apesar de consideravelmente mais leve que a de Grunbeld.
“Vocês dois certamente gostam de lugares altos.” Um soldado de pele branca como a neve e de longos cabelos prateados uniu-se a Grunbeld e Edvard na plataforma de observação — era Sigur.
Enquanto Grunbeld era o comandante dos Cavaleiros do Dragão Flamejante e Edvard era seu vice-comandante, o apoio à Infantaria Pesada do Dragão Flamejante era liderada por Sigur. Sigur se tornara uma mulher que irradiava uma elegância fria. Ela tinha cintura alta e os músculos dos braços e pernas eram tensos como os de uma gazela. Mas, apesar de tudo, seus seios e a parte inferior haviam se preenchido, dando a seu corpo curvas finas e elegantes. Sigur não usava armadura completa, mas uma combinação leve de cota de malha e bracelete. Afixada ao quadril, havia uma espada de duas mãos feita sob medida.
Os três ficaram ali observando o exército Tudor no horizonte. “O inimigo chega a vinte mil”, disse Sigur com um olhar indiferente. “Isso é mais do que o habitual.
“Nossos batedores relatam que é um avanço lento,” disse Edvard calmamente.
“Eles provavelmente estão transportando armas de cerco. Eu também ouvi que eles trouxeram um grande número de valiosos canhões,” completou Sigur.
“Nós temos um plano?,”perguntou Grunbeld, como se estivesse perguntando sobre o dia de amanhã.
Edvard sorriu sem medo: “Deixe comigo. É minha área de especialização.”
Capítulo 2. 2
A força Tudor de vinte mil avançou em direção ao Ninho do Dragão de Fogo. O oficial comandante era o general Dougal, conhecido por seu domínio do machado de guerra. As forças de Dougal estavam se movendo devagar, transportando muitas armas de cerco para usar contra o Ninho: vinte canhões caros, armas de cerco, quinze catapultas, torres de cerco e aríetes. Várias centenas de cavalos foram obrigados a transportar todo este equipamento. Além do mais, o Ninho era um forte bastião de última geração. Trincheiras e posições de artilharia eram obrigatórias para um cerco e Tudor tinha que pagar um alto preço para contratar um corpo especializado de sapadores.
Quatorze anos tinham se passado desde que Tudor começara a lutar contra o grão-ducado de Grant. Entre as condições geográficas desfavoráveis envolvidas no ataque à ilha-nação solidamente defensora, e Grunbeld, que se estabelecera no Ninho há dez anos, o impasse continuava. Para quebrar esse ciclo, muito mais fundos do que o habitual foram investidos nessa marcha.
O avanço era lento, mas Dougal não estava preocupado. A Grunbeld Corps tinha uma falha: seu comandante Grunbeld era “muito grande” para se locomover em um cavalo de guerra normal. Ele ainda pode ser chamado de cavaleiro?, perguntou-se Dougal com um sorriso.
O valor de Grunbeld certamente era uma ameaça, mas não tanto que ele pudesse eliminar vinte mil homens. Quinhentos homens de uma só vez poderiam mantê-lo ocupado. Se Grunbeld avançasse, sua falta de mobilidade poderia mantê-lo ocupado no campo enquanto a maior parte da força de Tudor atacava o Ninho do Dragão de Fogo. Se Grunbeld preferisse ficar parado, o exército Tudor poderia ocupar seu tempo construindo posições de cerco.
Seria finalmente xeque-mate. O grão-ducado de Grant estaria acabado. O rival profissional de Dougal, Abecassis, parecia estar planejando capturar o grão-ducado por uma abordagem totalmente diferente, mas ele não teria a chance. Dougal iria terminar as coisas do jeito dele.
O Ninho do Dragão do Fogo apareceu. De longe, parecia uma montanha — um castelo bloqueando o único corredor que levava à capital, Nordcapity. Seis bastiões de frente para as planícies, muros de duas camadas, uma fortaleza e guarita robustas.
A fortaleza era como uma rolha de garrafa endurecida com cera. Se as forças de Tudor não conseguissem arrancá-la, nunca beberiam nem um pouco do conteúdo.
E então …
“Hum?”
Uma nuvem de poeira se aproximou do Ninho do Dragão de Fogo em velocidade intensa. Era a cavalaria — cavaleiros. O fato de estarem se movendo tão rapidamente significava que Grunbeld não estava de modo algum liderando-os. Grunbeld não podia montar em um cavalo de batalha, então alguém deveria estar no comando. Os Cavaleiros do Dragão Flamejante eram um grupo de elite, mas sem Grunbeld eles não poderiam derrotar uma força muito maior que a deles. No entanto, quando a cavalaria chegou mais perto, Dougal duvidou de seus próprios olhos. “Isso não é possível!” Grunbeld estava à frente da cavalaria inimiga, montado em uma enorme carruagem puxada por oito cavalos. Um motorista segurava as rédeas e Grunbeld tinha seu martelo de guerra na mão, já preparado para o combate enquanto cavalgava. Uma carruagem não pode fazer curvas tão apertadas quanto a cavalaria. Uma vez que se move em frente, virar é trabalhoso, então carruagens foram usadas até que as selas e os estribos fossem desenvolvidos. Embora uma arma antiquada, uma carruagem ainda era mais útil para transportar Grunbeld.
E esta não era uma simples carruagem. Para apoiar um Grunbeld totalmente blindado, foi reforçada com ferro, e os oito cavalos de guerra eram todos especialmente poderosos.
“O que você acha que está fazendo? Arqueiros!”
“O inimigo foi totalmente descuidado e sua formação de marcha é uma bagunça!” disse Edvard do alto de seu cavalo. “Nossos números não são altos, mas somos todos cavaleiros! Eles não terão tempo para arqueiros ou uma parede de infantaria!”, completou Edvard. Edvard e Sigur cavalgavam ao lado da carruagem de Grunbeld. Edvard estava armado com uma lança longa de reserva. Sigur tinha sua longa espada de duas mãos. As forças de cavalaria de Grunbeld somavam cerca de quinhentos. As forças de Tudor estavam em desordem, mas um grupo deles ainda se movia para responder a Grunbeld. A infantaria formou uma muralha com lanças e os arqueiros começaram a soltar flechas, mas não conseguiam acertar facilmente um cavalo de batalha a pleno galope. Os arqueiros teriam que operar de uma maneira altamente organizada, então não havia necessidade de temê-los naquele momento. O problema era a parede de lanças.
“Eu vou,” disse Grunbeld. A carruagem chegou às fileiras dos Tudors e Grunbeld lançou a carruagem e saltou para cima. Ele era verdadeiramente como um dragão pulando. Com velocidade e agilidade inimagináveis para seu tamanho, ele mergulhou no centro da parede de lanças. Grunbeld balançou o martelo de guerra e espalhou os lanceiros. A arma esmagou lanças e fez cabeças inimigas saírem voando.
Elmos e crânios esmagados tão facilmente quanto maçãs. Cérebros, globos oculares e ossos espalhados. Uma névoa vermelha brilhante se espalhou explosivamente de acordo com os movimentos do martelo. Pulverização: essa foi a palavra mais adequada para quando Grunbeld e seu martelo estavam matando.
Edvard, em alto astral, seguiu Grunbeld. Edvard apontou para os comandantes inimigos enquanto estocava com a sua lança e atingiu um soldado Tudor. Edvard galopou com o inimigo ainda empalado na lança. Edvard jogou o inimigo espetado no próximo inimigo e o fez recuar. Outro impulso arrancou sua garganta. Sigur habilmente balançou sua espada de duas mãos a cavalo e, depois de derrubar vários Tudors, ela intencionalmente saltou de seu cavalo. Ela preferia lutar a pé ante o combate montado. Quando Edvard viu isso, ele brincou de seu cavalo: “Você gosta de ir na frente mais do que ficar em cima, hein!”
“Jerk…!” Seu rosto ficou vermelho, mas Sigur ainda avançava sobre os soldados inimigos. Sua espada de duas mãos foi especialmente feita, de modo que a metade inferior não tinha borda laminada. A única parte afiada era a ponta e cerca de quinze centímetros abaixo dela. Isso era para tornar mais fácil a luta usando sua especialidade, meia-espada. Meia-espada é quando alguém agarra o punho da espada com a mão direita e segura a espada com a esquerda. Isso permite um controle preciso até mesmo de uma espada grande de duas mãos. Sigur usou a técnica da meia-espada para destroçar os pontos fracos do soldado inimigo. Ela inseriu a ponta nas aberturas da armadura, cortando de maneira confiável músculos e tendões importantes. Ela cortava artérias do pescoço e das coxas, provocando uma enorme perda de sangue no seu adversário.
Grunbeld brandiu o martelo de guerra de novo e de novo, devastando as forças Tudor como se estivesse espalhando teias de aranha. Nada que os Tudors possuíssem poderia ser usado para impedi-lo. Grunbeld avançou com força irresistível enquanto matava, esmagava e pulverizava. Com o físico de Grunbeld, ele poderia matar um soldado comum com apenas um chute. Um golpe de seu martelo instantaneamente reduzia uma pessoa a um pedaço de carne da cabeça aos pés. Um golpe e a área circundante ficaria cheia de ossos e vísceras. Quando soldados patéticos se arrastavam pelo chão em um esforço para escapar, Grunbeld nem se dava ao trabalho de usar o martelo. Ele apenas passaria por cima deles e os esmagavam até a morte. No momento em que ele pisava em alguém, o som doentio de costelas e esternos estilhaçados podiam ser ouvidos.
“Cavaleiros Bestiais Anfíbios de Ataque!” gritou Dougal. Este era um bando de elite de cavaleiros mobilizados para reforçar esta região e que, à moda típica de Tudor, ostentavam um título excessivamente embelezado. Eles estavam vestidos com armaduras que incorporavam formas de morsas e elefantes marinhos e estavam armados com armas de cabo longo, como os tridentes. Eles eram veteranos valentes com experiência em operações de aterragem marítima. No entanto, Grunbeld também os pulverizou. Grunbeld atacou com seu martelo de guerra enquanto ele e um cavaleiro se cruzavam, e o efeito superou a pulverização, para ser mais precisamente descrito como uma explosão. Um corpo humano esmagado em pedaços com armadura e tudo. Apenas a metade inferior do cavaleiro morto permanecia no topo do cavalo. Nem mesmo um golpe direto de um canhão poderia deixar para trás um cadáver tão miserável.
Incapaz de recuar e assistir, o general Dougal desafiou Grunbeld em uma demonstração de valor imprudente. Talvez ele pensasse que a cavalo, com seu machado de batalha extra-grande, ele poderia ter uma chance de matar Grunbeld. Grunbeld calmamente encontrou Dougal em batalha e usou seu martelo para afastar o ataque. As armas extragrandes se chocaram e o impacto desequilibrou Dougal. Grunbeld imediatamente aproveitou e lançou seu segundo ataque. O martelo de guerra primeiro esmagou a cabeça de Dougal, depois seu corpo, e ainda teve força suficiente para afundar nas costas do cavalo. Os órgãos internos espalhados foram tão destruídos que não se podia dizer qual pertencia ao homem e qual ao cavalo.
A batalha acabou logo. Dos vinte mil do lado de Tudor, dois mil estavam mortos. Quatro mil ficaram muito feridos para mais combates. Dois mil foram feitos prisioneiros. O resto fugiu.
“Nós somos apenas quinhentos. Um grupo tão grande de prisioneiros é mais do que podemos lidar,” disse Edvard.
Grunbeld assentiu: “Então é o habitual. Isso servirá como um aviso para o inimigo.
Vamos por esse caminho.”
A Grunbeld Corps não mostrou aos prisioneiros nenhuma misericórdia. Primeiro, eles soltaram metade dos prisioneiros depois de cortar suas mãos pelos pulsos. Com ferimentos tão sérios, muitos morreriam de uma perda maciça de sangue. Qualquer um que sobrevivesse tempo suficiente para retornar a uma cidade ocupada por Tudor, nunca mais seguraria uma espada. A perda de suas mãos era um aviso. Dos prisioneiros restantes, metade teve seus pés cortados e foram abandonados em um campo.
Os prisioneiros remanescentes finais foram condenados a morrer na forca. Uma forca é como uma gaiola de ferro, grande o suficiente para um homem mal caber dentro. Um prisioneiro seria despido e colocado dentro, e a forca era então suspensa de um longo mastro. Deixado lá, o prisioneiro iria morrer de fome lentamente. Esses cativos não estavam simplesmente morrendo de fome, no entanto. Para encorajar a decadência dos cadáveres, eles foram feridos antes de serem colocados nas forcas. Cortes horizontais perto dos olhos, a remoção de polegares e dedos indicadores, o corte de calcanhares e tendões de Aquiles, os prisioneiros eram inutilizados como soldados para o caso improvável de serem resgatados pelo inimigo. Dependendo do tempo, um cadáver apodrecendo poderia inchar para encher uma gaiola até romper, com as barras de ferro mordendo o corpo. Esses cadáveres, quando alinhados ao longo das estradas, eram conhecidos por causar uma tremenda inquietação entre os soldados de Tudor.
Capítulo 2. 3
Um pouco mais de seis milhas do Ninho do Dragão de Fogo, na direção da capital, estava o Templo da Extinção. O costume de Grunbeld era ir para lá depois de uma batalha. O Templo da Extinção fora construído usando um rio que fluía do exterior de uma cratera. As árvores cresceram espessas e exuberantes ali, como se uma linda ilha do sul tivesse se manifestado de repente na planície. Uma fonte tirava água do rio e esculturas dos deuses foram esculpidas ali. O templo principal era uma estrutura de madeira com ornamentação distinta baseada na proa de um navio, uma imagem de que o povo Leões Marinhos costumava atravessar o mar. Grunbeld entrou no templo. O primeiro a recebê-lo não era uma pessoa, mas uma fera: Ludvig, o lobo prateado, companheiro de Benedikte. De um jeito ou de outro, Ludvig conhecia Grunbeld há muito tempo. O grande lobo bufou e veio correndo, brincando como um cachorrinho. Embora Ludvig fosse grande o suficiente para carregar um cavaleiro nas costas, ele parecia um filhote ao lado do enorme Grunbeld.
“Bem vindo de volta, Sir Dragão de Fogo.” Benedikte apareceu. Grunbeld cresceu muito ao longo dos anos, mas Benedikte ainda era pequena e adorável. Mas a transparência de seus olhos e pele aumentara a um grau surpreendente.
No Templo da Extinção viviam as antigas sacerdotisas principais e as jovens sacerdotisas assistentes. Garotas que eram as juniores de Benedikte estavam olhando para Grunbeld e conversando com vozes agudas. Como que para adverti-las por sua provocação, Benedikte olhou para Grunbeld e disse em tom de brincadeira: “Eu sou uma sacerdotisa, então eu não posso casar com você. Desculpe.”
“De onde veio isso? Ninguém disse nada sobre isso.” O tempo que passou com ela foi um raro momento de serenidade para Grunbeld. Ele não tinha pais, não sabia se amava, e as pessoas tinham uma perspectiva tendenciosa dele desde a infância só porque ele era grande. Ser uma máquina de luta é mais fácil do que chegar a um entendimento mútuo com alguém. Além dos subordinados que lutaram e sobreviveram ao lado dele, quatro pessoas fizeram o mundo de Grunbeld completo: Edvard e Sigur, Kirsten e Benedikte. Sua vida era complicada demais para se envolver profundamente com muitas pessoas. Ludvig esfregou as costas contra a perna de Grunbeld. Ah, é verdade. Eu me esqueci de você. Quatro pessoas e um animal. Ludvig estava encarregado de guardar Benedikte, e saber que o lobo estava com ela dava a Grunbeld uma sensação de segurança, mesmo quando ele estava no Ninho do Dragão de Fogo.
O Templo da Extinção ficava entre a capital e o Ninho, e a memorável floresta onde Grunbeld e Benedikte se encontravam ficava entre o Ninho e o Forte Chester. Benedikte podia passar livremente pelo Ninho do Dragão de Fogo porque todos os guardas conheciam o rosto dela — e porque Ludvig projetava uma presença muito sinistra. Com Benedikte às costas, Ludvig movia-se com facilidade por precipícios íngremes que cavalos e homens a pé encontravam condições impossíveis de atravessar.
“Venha me visitar se você se perder, disse Benedikte.” Como sacerdotisa do Templo da Extinção, vou adivinhar o seu futuro.”
“Eu não preciso de adivinhação”, disse Grunbeld. Todo o meu futuro consiste de estar lutando e vencendo Tudor.”
“Isso é realmente verdade?” Benedikte olhou diretamente para Grunbeld: “Eu sinto algo muito vasto vindo de você, tenho a sensação de que o Behelit mudará imensamente o seu destino.”
“Behelit …” Grunbeld lembrou-se do estranho artesanato que carregava em torno do martelo de guerra que ele usava tanto. Benedikte ouvira de uma suma sacerdotisa que aquilo se tratava de um antigo fetiche chamado Behelit, e a lenda dizia que, no tempo predestinado, daria o desejo de seu dono em troca de sua carne e sangue, mas qualquer conhecimento expresso sobre o que era foi perdido no tempo. Para Grunbeld, porém, o objeto não era mais que uma lembrança do estômago de um tigre, não algo que pudesse controlar o destino. Mas o Behelit parecia uma prova do vínculo que ele, Sigur e Edvard compartilhavam, de modo que Grunbeld não se importou em se desfazer dele.
Capítulo 2. 4
Nordcapity, capital do grão-ducado de Grant. A parte de trás do quarto do grão-duque, no interior de seu castelo, era uma sala escondida que fazia parte de uma rota de fuga de emergência. A passagem levava à periferia da cidade, e um arsenal e cadeia foram preparados ao longo do caminho. A prisão era para confinar prisioneiros de circunstâncias especiais, onde não seriam vistos pelo público.
“Vadia… Puta …!”
Mas, a pessoa atualmente confinada na prisão da sala secreta não era um prisioneiro de circunstâncias especiais, mas uma garota inocente da cidade que não sabia de nada. Três dias antes, ela estava de mãos e pés atados, implorando desesperadamente por sua vida. Sua língua havia sido cortada e todos os dentes removidos, então ela só podia emitir gemidos do fundo de sua garganta. O grão-duque Haakon estava enfiando seu pênis na boca da garota. Quando ele ejaculou em sua garganta, a menina engasgou e entrou em um ataque de tosse. Haakon a golpeou e gritou. “Sua idiota! Engula isso!” Ele pegou um par de pinças quentes que estava pendurado na parede e atingiu-a com eles, arrancando sua carne até que o osso ficasse visível.
Ele deixou a garota raptada da cidade sentir o peso de sua amargura sobre sua irmã e os nobres que tentaram matá-lo. É culpa deles as pessoas me odiarem. O humor de Haakon estava ficando cada vez pior neste dia. Grunbeld ganhou de novo e, ao contrário de mim, é popular com o povo. Por alguma razão, o sangue dos caçadores oceânicos havia se manifestado em Grunbeld com rara intensidade. Eu devo ter pelo menos um pouco do sangue de nossos ancestrais também, mas por que ele consegue tanto? Uma série de assassinatos brutais e grotescos provocava uma agitação em Nordcapity. As mortes foram perpetradas por ninguém menos que Haakon Grant, o próprio grão-duque.
Haakon parou sua violência para não matar sua cativa, deixando a continuação para o dia seguinte. Simplesmente matá-la não era divertido. Ele queria ver a menina sofrer em desespero enquanto sua carne era raspada um pouco de cada vez com uma espátula de bambu. Quando Haakon deixou a prisão, ele encontrou uma criatura sombria esperando por ele. O Grão-Ducado tinha um grupo secreto que vivia na escuridão — a Mão das Sombras. Eles eram uma força de especialistas em trabalho sujo que apoiavam o Grão-Ducado das sombras e que se gabavam de habilidades físicas sobre-humanas. Suas capacidades eram boas o suficiente para serem comparáveis aos Kushans Bakiraka, um clã estrangeiro de assassinos muito conhecido no submundo continental.
Os espiões e assassinos da Mão das Sombras se vestiam em peles de animais tingidas com tons escuros de cinza escuro e preto. Eles usavam calçados finos de couro para que seus passos não fossem ouvidos. Agora aparecendo diante de Haakon estava Mateusz, o líder da Mão das Sombras.
A Mão das Sombras vivia apenas para seguir as ordens do grão-duque de Grant e Mateusz não era exceção. Seu espírito de devoção absoluta explicava por que eles faziam todo o esforço para ajudar até com esses assassinatos grotescos. A Mão das Sombras raptavam as mulheres e, quando Haakon terminava, descartavam seus cadáveres na cidade.
“O que você quer, Mateusz?”
“Nós capturamos um espião Tudor.”
“Bem, apenas torture-o e mate-o.”
“Sim, senhor, mas esse espião é um pouco estranho …”
“Estranho como?”
“Ele diz que é um mensageiro secreto, não um espião. Ele afirma ser um representante do general Abecassis de Tudor.”
“Oh? O que você acha, Mateusz?”
“Ele era um espião experiente. Mas ele foi preso rapidamente, considerando isso. Ele carregava uma carta com o selo do General Abecassis. Há muitas razões para acreditar que ele é um mensageiro.”
“Um mensageiro secreto Tudor …” disse Haakon. “Eu suponho que eu devo falar com ele um pouco.”
“Devo dizer ao general Kirsten e ao comandante Grunbeld sobre isso?” perguntou Mateusz.
“Não” respondeu Haakon. “Não diga nada a eles.”
“Como quiser, senhor.”
Haakon fez o seu caminho habitual para a prisão do castelo. O mensageiro estava acorrentado a uma parede. Ele era careca, com olhos de peixe bulbosos e um sorriso incessante.
“Então, você representa o Abecassis,” disse Haakon.
“Se não é o grão-duque. Estou muito honrado em conhecê-lo.”
Do seu bolso, Haakon tirou a carta selada que Mateusz lhe dera. “Eu dei uma olhada nisso,”/ele disse ao abrir a carta, “mas estava tudo em branco. Você está me fazendo de idiota?”
“É assim que não deixamos para trás nenhuma evidência,” respondeu o mensageiro. “Essa carta é apenas para provar que o selo tem o brasão do General Abecassis. Para garantir-lhe o meu status. Qualquer informação adicional seria um obstáculo. Tudo o que precisamos está dentro da minha cabeça.”
“Parece que você está apenas tentando me enganar.”
“Por que não julgar depois de ouvir o que eu estou prestes a divulgar?”
“E o que isso poderia ser, meu espião preso?”
“Um ataque em grande escala pelas forças de Tudor. Temos cem mil soldados. Vou informá-lo como você ainda pode estar vivo depois que isso acontecer.”
“Ataque em escala total? O que?”
“Você tem espiões excelentes, os Mão das Sombras. Por favor, faça-os investigar um pouco. Todos os últimos navios desta região pertencentes a piratas ou comerciantes proeminentes foram requisitados pelos militares de Tudor. O transporte não é uma tarefa simples para cem mil soldados …”
“Seu desgraçado,” ameaçou Mateusz, que estava por perto. Haakon levantou a mão para parar Mateusz. “Vá em frente, conte-me mais.”
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——————– Fim do capítulo 2 ——————
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