Chega ao fim a árdua Jornada de Schierke e Farnese no Mundo dos Sonhos para restabelecer a Alma de Caska.
O capítulo passado terminou com a revelação da forma do Fragmento Final, cuja representação era a do feto abortado por Caska. A imagem do feto a levitar dentro daquela espantosa redoma de espinhos é assustadora. Assim não é de se estranhar a repulsa e o medo de Farnese diante dessa imagem medonha. Nesse ponto, Farnese se pergunta sobre o significado daquilo, já que ela não esperava que o último fragmento encerasse algo tão medonho. É natural que Farnese tivesse essa reação, pois ela não conhece nada do passado nefasto de Caska, tampouco o de Guts. Schierke não se assustou com aquilo porque já esperava por isso, já que ela conhece um pouco da origem e trajetória dos estigmatizados e já esteve em contato direto com as lembranças sombrias de Guts. Sobre o significado simbólico do porquê de o último fragmento ser o filhinho de Caska, discutimos algumas possibilidades e suposições no review passado. Como era esperado por todos, o último fragmento da memória perdida de Caska guardava as sinistras lembranças do Eclipse.
Ao liberar a última memória retida de Caska, Schierke e Farnese são tragadas pelo turbilhão das lembranças dos sinistros eventos do Sacrifício: morte, assassinato, sangue, desespero, agonia, pranto, carnificina, entre outras atrocidades e insanidades. Nesse momento, elas interagem diretamente com os horrores do Eclipse e, consequentemente, com a raiz do mal que fragmentou a alma de Caska. Ao fundo vemos a carnificina dos Apóstolos e no alto, sob o sol eclipsado, vemos a Mão de Deus sustentando Femto e os Quatro Demônios. No turbilhão caótico de memórias, vemos os amigos e companheiros de Caska sendo dilacerados e devorados vivos pelos Apóstolos. Podemos identificar Judeau no meio disso tudo. Imagino que a morte de Judeau impactou fortemente Caska, já que ele deu a vida por ela. Mas o que mais chama a atenção nesse momento é a imagem de Caska sendo estuprada na frente de Guts. Pelos olhos de Farnese, podemos ver que Guts foi a última coisa que Caska viu antes de perder totalmente sua personalidade, e também podemos ver que ela sofria muito enquanto era estuprada por Femto. Pelo visto ai, podemos dizer que Caska sofreu muito: primeiro, a dor da violência do estupro; segundo, a dor da decepção de ser estuprada pelo homem que ela mais admirava e respeitava; e terceiro, a dor da humilhação de ser estuprada na frente do homem que ela amava verdadeiramente. Isso tudo junto dilacerou a alma dela, pois, ao contrário de Guts, ela não foi forte o suficiente para suportar tudo isso de uma vez só!
Agora Schierke e Farnese conhecem e compreendem todo o sofrimento pelo qual Caska e Guts passaram; sentiram diretamente todo o peso do mal que despedaçou a alma de Caska. Agora Schierke entende melhor o porquê do ódio de Guts contra o Falcão da Luz e o porquê de sua vingança contra ele. Depois de ver e sentir diretamente todo o mal que se abateu sobre Guts, Schierke ficou muito comovida, e isso pode querer dizer que ela, provavelmente, decidirá seguir com Guts em sua jornada contra Femto.
A real forma da última memória de Caska é a de seu coração aprisionado a um invólucro de espinhos. Provavelmente, o coração representa a alma de Caska e o envoltório espinhento representa o estigma demoníaco. Isso nos lembra que Caska é uma marcada, isto é, uma oferenda à Femto, e, como tal, uma propriedade dele, assim também como Guts. Nesse sentido, devemos lembrar que Caska foi marcada acima do seio esquerdo, logo onde fica o coração, então deve ser por isso que o último fragmento tinha a forma final de um coração enjaulado.
Ao lembrar das palavras proféticas do Cavaleiro Caveira, Schierke dá a entender que talvez Caska não quisesse ser despertada daquele pesadelo, contrariando assim o desejo de Guts em tê-la de volta. Talvez Caska tenha criado inconscientemente todo esse sinistro mundo em seu subconsciente como uma maneira de fugir ou evitar as lembranças apavorantes do Sacrifício. Talvez ela tenha feito isso inconscientemente porque não conseguiu encontrar coragem e forças suficientes para encarar e lidar com a terrível realidade do Eclipse. Talvez Caska tivesse desejado nunca despertar! Infelizmente, só teremos esta certeza quando ela ficar face a face com Guts. Espero que essa confrontação entre Caska e Guts já ocorra no próximo capítulo, pois os fãs de Berserk já não aguentam mais esperar para ver o tão esperado reencontro.
Farnese foi de grande importância nesse capítulo, pois graças a sua autodeterminação e força de vontade, mesmo diante da cautela e prudência de Schierke, tomou a iniciativa ousada de contrariar sua mestra e devolver o fragmento ao corpo da boneca. Essa ação de Farnese foi determinante para restaurar a alma de Caska. Nesse momento, Farnese entendia perfeitamente os sentimentos de Caska, não apenas porque estava dentro da mente de Caska, mas porque já tinha vivido e sentido na pele aquelas sensações e sentimentos. Farnese vivia presa em um mundo de aparências, ilusões e solidão, cheia de medo, desesperança e fraqueza, mas Guts lhe revelou a verdade sobre o mundo, deu um sentido a vida dela, lhe deu verdadeiros companheiros, coragem e um propósito para seguir. Podemos dizer que ao fazer isso, Farnese pagou a dívida que tinha com Guts. Penso que depois de presenciar isso tudo, Farnese entenderá que não deve nutrir esperanças pelo amor de Guts, pois ele já pertence a Caska, e também entenderá que confundiu admiração e gratidão com sentimentos amorosos. É possível que depois disso ela resolva dá uma chance ao Roderick. Esse capítulo mostrou que Farnese não está apenas amadurecendo como usuária de magia, mas sobretudo como pessoa.
O cão-Guts, mesmo munido da berserker armor, não foi capaz de segurar e conter o Falcão Negro. Aliás, ele foi imobilizado apenas com uma das garras do Falcão Negro. Se Farnese não tivesse sido tão rápida em devolver o último fragmento a boneca, ela e Schierke teriam sido esmagadas pelo peso do golpe da garra do Falcão Negro. Mais uma vez Farnese foi decisiva para o sucesso dessa jornada. Por muito pouco elas conseguiram restaurar completamente o corpo da boneca e anular o pesadelo a tempo de não serem mortas. É um alívio ver que deu tudo certo no fim e que ninguém morreu!
Esse capítulo teve um pouco de ternura e graciosidade. Foi muito meiga e fofa a parte em que a pequenina Caska caminha em direção ao estigma e antes de adentrá-lo, olha na direção do cão e se despede carinhosamente dele com um pequenino aceno de mão, ou melhor dizendo, um breve “até logo”! Talvez isso signifique que a pessoa que a pequenina Caska queria ver era Guts, já que o cão é a representação dele no inconsciente dela. A breve despedida entre Farnese e a pequenina Caska foi cheia de ternura e carinho, e isso talvez queira dizer que elas serão grandes amigas. É inegável que se formou um laço muito forte entre Farnese e Caska durante todo esse tempo em que elas estiveram juntas, e penso que essa ligação continuará e ficará mais forte, ainda mais agora que Farnese conhece a forte e sincera ligação amorosa entre Guts e Caska, um laço verdadeiro e resistente que perdurou e ainda perdura atual depois de tanto tempo e de tanto sofrimento.
Por fim, uma encantadora chuva de pétalas de cerejeira cai sobre todos, encerrando majestosamente a árdua jornada de nossas duas bruxinhas. As pétalas de Danann dançam no ar graciosamente, lançando luz nos sonhos sombrios de Caska. Depois disso, vemos Caska despertar no Salão dos Sonhos em Elfhelm. A expressão estampada no rosto de Caska é a de quem acordou depois de um longo sono. E de fato, a verdadeira Caska esteve adormecida por um longo tempo dentro de si mesma. Mas agora ela foi despertada e muitas surpresas e revelações a aguardam. A trama de Berserk a partir daqui poderá passar por uma intensa reviravolta, pois enfim saberemos se Caska e Guts seguirão por caminhos convergentes ou divergentes. Façam suas apostas!
Um resumo até aqui: Guts veio para Elfhelm com o propósito de recuperar a alma de Caska. Danann, usando a magia dos “corredores dos sonhos”, guiou Schierke e Farnese através dos sonhos de Caska e adentrou nas profundezas da alma dela com o intuito de conseguir respostas para a insanidade dela. Schierke e Farnese foram para dentro das memórias evitadas de Caska, para dentro dos seus pensamentos mais ocultos, percorreram os seus sonhos mais sombrios em busca de respostas e soluções para ajudá-la. Essas respostas e soluções foram encontradas nas profundezas do inconsciente dela e estavam todas associadas aos horrores do Eclipse, do Sacrifício e do estupro. Os pedaços da alma fragmentada de Caska foram recuperados depois de uma árdua e perigosa jornada no mundo dos sonhos e depois reunidos. Por fim, a alma perdida e fragmentada de Caska foi reencontrada e restaurada.
Mas será mesmo que tudo deu certo? Será mesmo que aquela Caska despertada é a Caska dos bons e velhos tempos do Bando do Falcão? Façam suas apostas!